“As PME são a pedra angular para impulsionar a economia global”

Ana Teresa Ribeiro, Country Sales Director da Sage, aborda o papel das PME na economia global, as tendências de crescimento e as prioridades estratégicas para as PME nacionais.

 

Como é que as PME podem continuar a contribuir positivamente para a economia global?

As PME são a força vital das economias em todo o mundo, atuando como um motor de crescimento económico e geração de emprego. Após períodos conturbados, elas são fundamentais para impulsionar a recuperação económica. Numa recessão, as PME têm a capacidade distinta de se adaptar rapidamente, de uma forma que é simplesmente impossível para as grandes empresas. A sua agilidade e foco permite-lhes redirecionar recursos, atualizar planos e encontrar novas formas de operar, não apenas para mitigar o impacto do cenário económico desafiante, mas também para capitalizar as novas oportunidades que surgem em períodos de mudança. Isto é visível no momento atual: apesar da incerteza económica que enfrentamos, o setor das PME não tem dado sinais de abrandamento. De facto, no estudo SMBs Driving Economic Recovery, prevemos que o número de PME continue a aumentar anualmente em vários países da Europa e América do Norte nos próximos três anos. No nosso país, em particular, espera-se que até 2025 o número de PME cresça em 22.000 e atinja as 917.000 empresas. Após um período marcado pela pandemia, disrupções nas cadeias de abastecimento e pelo aumento da inflação e do custo de vida, não temos dúvidas de que as PME serão, mais uma vez, a pedra angular para impulsionar a economia global. O nosso mais recente estudo estima que a contribuição das PME em Portugal vai atingir os 73 mil milhões de euros até 2025, o que representa 68.8% do valor acrescentado bruto das empresas no país.

 

De que forma é que a recessão financeira de 2007-2009 foi compreendida e solucionada por parte das PME em Portugal? 

As PME tiveram um papel muito importante na recuperação económica após a crise de 2007-2009. Para dar algum contexto, importa dizer que as PME, por natureza, costumam ter menos estruturas hierárquicas e níveis de senioridade do que empresas maiores, o que significa que conseguem reagir rapidamente a crises, adaptando e redesenhando os seus métodos e redistribuindo recursos para novos objetivos, se necessário. Na realidade, uma desaceleração pode estimular mais a sua inovação e torná-las mais resilientes perante crises futuras, protegendo assim um grande segmento da atividade económica e do emprego. No que toca à crise mencionada, em Portugal tanto o número de PME como o número de empregos nelas caíram entre 2008 e 2013 (para depois voltarem a aumentar em 2014 e 2015). Nesse período, a quota das PME no panorama empresarial permaneceu nos 99.9% e, apesar do contexto difícil, a sua contribuição económica permaneceu num nível sólido durante a crise financeira. Paralelamente, a inovação tecnológica também teve um papel importante nesta recuperação. Olhando para os desenvolvimentos das PME por setor, percebemos que no rescaldo da crise, 2009-2015, os maiores declínios no número de PME foram observados nos setores de produção industrial, construção e comércio a retalho. Os dados que recolhemos indicam uma transição das PME dos setores tradicionais na economia para os que promovem mais inovação e utilizam as novas tecnologias disponíveis. 

 

Que funções é que mais alavancaram e/ou reforçaram?

Os setores criativo e tecnológico, em particular, alcançaram fortes ganhos com a digitalização e foram cruciais para a recuperação. Por exemplo, em 2015, foram criadas 17% das atuais empresas do setor de TI, o que inclui empresas envolvidas em programação de computadores, consultoria e produção de media. Nesse momento, a contribuição económica das PME neste setor aumentou 359 milhões de euros nos dez anos desde 2005. Desta forma, não temos dúvidas de que as PME foram vitais na recuperação económica da pior recessão que atingiu a Europa em mais de meio século. Na verdade, não apenas recuperaram da crise, mas, em muitas economias, ultrapassaram rapidamente os níveis de negócio que registavam antes dela, alimentando assim o crescimento económico e o emprego, e ao mesmo tempo trazendo inovação, principalmente através de atividades de base técnica. Para as PME, a crise de 2007-2009 foi uma oportunidade para realinharem e reequilibrarem os seus objetivos.

 

Como explica a diferença entre o mercado de Portugal e os restantes da Europa?

É verdade que alguns países viram as suas economias recuperar e crescer de forma mais significativa do que outros após a crise de 2007-2009. Isto deve-se, em grande medida, à adoção da tecnologia e à capacidade de digitalização em cada país. Em comparação com a Alemanha, por exemplo, que teve um desempenho de destaque durante o período pós-crise, as PME portuguesas enfrentaram mais dificuldades e obstáculos, com o número de PME e de empregos a cair entre 2008 e 2013. Esta disparidade em relação à Alemanha e a outros países da Europa parecem estar fortemente ligados ao nível de digitalização de Portugal, o que se torna ainda mais claro quando olhamos para os dados da Eurostat que mostram que estamos significativamente abaixo da média da UE neste aspeto. As PME portuguesas estão a ficar para trás quando comparadas com os seus pares da UE e estão a ter dificuldades em competir com empresas maiores. Tal como a Sage advoga há muitos anos, a tecnologia e a digitalização são vitais para o crescimento das PME, especialmente neste mundo pós-pandemia, e a adoção de novas tecnologias levará a que alimentem a recuperação económica.

 


Quais são as tendências de crescimento das PME para os próximos três anos?

Segundo o que concluímos no estudo já referido, na maioria das economias espera-se que as PME cresçam em quase todas as dimensões, esperando-se o maior aumento em França e na Alemanha. Isto deve-se à assunção de que as PME vão tirar partido das oportunidades disponíveis para adotar novas tecnologias e utilizar os benefícios da digitalização para continuarem a ser líderes em inovação. No entanto, só vão alcançar esse forte desempenho se realmente se adaptarem e desenvolverem continuamente perante o ambiente económico em mudança. Esperamos que as PME continuem a digitalizar-se, a aprender com as crises anteriores e a utilizar as ajudas governamentais disponíveis para continuarem a impulsionar a inovação. Por outro lado, prevemos que a quota da contribuição das PME para a produção económica total das empresas (valor acrescentado bruto) fique acima de 45% na Alemanha, Espanha, França e Portugal em 2025, e que as PME representem pelo menos 99.6% do panorama empresarial nessas economias.

 

Qual é o poder da digitalização para as empresas em 2023?

Os avanços na digitalização serão cada vez mais vitais para o crescimento das PME, permitindo-lhes continuar a impulsionar a atividade económica e a inovação. Em 2023, a tecnologia vai continuar a desempenhar um papel fundamental para as PME (e para todas as empresas), especialmente após a revolução digital que a pandemia veio acelerar. Temos vindo a assistir a esta mudança a um ritmo nunca visto e em todos os setores – desde canalizadores que utilizam o smartphone para a faturação dos clientes e acompanhar despesas em tempo real, passando por cabeleireiros que recorrem ao WhatsApp para fazer marcações, até fabricantes que digitalizaram os seus processos na cloud. Agora, as empresas que nunca foram consideradas “tech” estão a utilizar ferramentas digitais para aumentar as receitas, minimizar os custos e economizar tempo. Temos também o exemplo inevitável da transição para o teletrabalho durante a pandemia que permitiu que as empresas continuassem em funcionamento em tempos incertos.

 

Quais devem ser os objetivos e planos das PME nacionais para o futuro?

Cada vez mais é fundamental que as PME portuguesas concentrem os seus esforços na digitalização dos negócios e adotem tecnologias que aumentem a sua produtividade e lhes facultem os insights necessários para se adaptarem e crescerem mais rapidamente. Só assim vão conseguir ser bem-sucedidas no mundo moderno. Para além disso, como referimos, Portugal está a ficar para trás em relação a outros países europeus, e é necessário começarmos a apanhar o ritmo. Numa altura em que as empresas são altamente competitivas, não apenas a nível nacional, mas global, torna-se imperativo estar atento às mudanças no mercado – e a adoção das novas ferramentas e tecnologias já não é negociável. As PME nacionais devem ter isto em mente e focar-se em definir objetivos e delinear planos no sentido da transição tecnológica. As vantagens são várias e não o fazer pode ser sinónimo de insucesso. Apesar da recessão económica, agora é o momento de investir na digitalização.

 

Artigo publicado originalmente em PME Magazine