Women in Tech: 5 perguntas a Ana Ribeiro

A revista IT Channel desafiou um grupo de líderes da área tecnológica, a partilharem a sua perspetiva sobre a posição das mulheres no setor, os desafios que enfrentam, o que foi feito e o que falta mudar. Publicamos o depoimento de Ana Ribeiro, Country Sales Director da Sage Iberia.


“It’s a man’s world”. A expressão pode ser usada para descrever o ambiente no setor tecnológico que é ainda hoje predominantemente liderado por homens. À problemática da escassez de talento nas empresas de tecnologia soma-se a deficitária divisão de géneros: ainda que as empresas estejam mais conscientes e empenhadas numa paridade entre homens e mulheres, apenas 22% das mulheres europeias ocupam cargos tecnológicos em empresas. Estes dados são apresentados no relatório da McKinsey & Company – “
Women in tech: The best bet to solve Europe’s talent shortage” – que demonstra, também, que se a percentagem de mulheres em empregos tecnológicos duplicasse até 2027, o PIB da União Europeia (UE) poderia aumentar até 600 mil milhões de euros.

Estas lacunas entre géneros estão também intimamente relacionadas com a percentagem de mulheres no ensino superior nas áreas conhecidas como STEM – ciências, tecnologia, engenharia e matemática: o mesmo relatório revela que a média europeia de mulheres licenciadas nestes cursos é de 32%. O valor sobe para 35% no caso de Portugal. 

Leia a entrevista de Ana Ribeiro, Country Sales Director da Sage Iberia, uma da oito “Women in Tech” que partilharam com o IT Channel as suas experiências no percurso até à liderança.

 

Há quantos anos é uma Woman in Tech?     

Iniciei na área da tecnologia, logo após a saída da Faculdade de Economia do Porto. O trigger foi uma formação complementar que fiz na faculdade, em que simulámos a automatização e digitalização da gestão de uma empresa num mercado virtual. Despertei aí para a importância crítica da tecnologia no sucesso da gestão empresarial e na eficiência e motivação das pessoas. Decidi posicionar-me profissionalmente na interdisciplinaridade dessas três dimensões: tecnologia, gestão e pessoas. Comecei por uma área mais técnica no software de gestão empresarial e fui evoluindo para a área de direção de clientes oito anos depois. Nos últimos 11 anos tenho vindo a liderar várias unidades de negócio na área da tecnologia e de gestão/informação e mais recentemente o negócio em Portugal da tecnológica Sage, na qual 80% da equipa de liderança é composta por mulheres, algo que ainda não é muito comum numa empresa deste setor. É neste sentido que a Sage tem apostado cada vez mais em práticas de Diversidade e Inclusão como parte do seu ADN, o que significa que proporcionamos as oportunidades certas numa cultura inclusiva e diversa.

 

Quais os maiores desafios que encontrou no início? O que mudou desde então?

A maior dificuldade foi a afirmação de um posicionamento multidisciplinar de ligação entre tecnologia e gestão. Nos projetos em que estive envolvida no início havia uma separação entre tecnologia e gestão, mais centrado no conteúdo do que no diálogo e colaboração entre as várias valências, para entregar o melhor serviço ao cliente. Atualmente, a tecnologia entrou em todas as dimensões das nossas vidas, e a par do conhecimento e inovação técnica, é crucial a criatividade, o design, a experiência do uso, a exploração da inteligência emocional e artificial. A tecnologia está muito mais democratizada e abrangente. Como tal, sou da opinião de que muitas das barreiras iniciais se têm vindo a esbater e a diversidade tem vindo a ser crescente, no conhecimento e no equilíbrio da igualdade de género.

 

Atualmente, como vê a posição de uma mulher na área do IT?

Qualquer profissional para ser feliz nesta área tem de vibrar com esta dinâmica, ter uma elevada apetência ao risco e tolerância à incerteza, usufruir do inesperado e capacidade de adaptação e resiliência. Sendo mulher, tem alguns desafios adicionais. Embora o gap de género se tenha vindo a esbater, ainda existe em algumas áreas e, como tal, é necessário uma redobrada energia, coragem e confiança para ultrapassar preconceitos e assegurar a meritocracia.

 

O que é que não pode faltar no dia a dia de uma Woman in Tech?

Poderia falar nos gadgets, que é mais ou menos padrão nas “techies”, mas mais que objetos, creio que o que não pode faltar é a atitude, num resumo de três C´s: Curiosidade para questionar, atualizar, e reprogramar as “certezas”, progredindo com o resultado dessas aprendizagens; Criatividade para tornar simples as coisas complexas e posicionar a tecnologia ao serviço das pessoas, sejam elas os clientes, colegas ou outros beneficiários; Coragem para se afirmar e arriscar fazer diferente, aprendendo com os erros e celebrando os sucessos.

 

O que falta fazer para que mais mulheres possam ocupar cada vez mais posições de liderança?

Em primeiro lugar é importante a educação, na família, para a igualdade nas pequenas e grandes coisas: nos interesses, oportunidades e experiências. Acredito que este caminho começa em casa e nos exemplos basilares de referência. O ensino desempenha também um papel fundamental, mais do que os programas oficiais, cada vez mais a promoção de experiências e ações orientadas na aplicabilidade da tecnologia na sociedade desmistifica a tecnicidade da tecnologia e promove o seu propósito na transformação e evolução social. Por fim, é preciso “mundo”; a globalização permite-nos perceber que não há impossíveis pela vivência e observação de experiências e realidades diferentes. A conjugação destes três fatores contribui fortemente para uma atitude mais curiosa, criativa e corajosa, onde uma posição de liderança acontecerá naturalmente se essa for a escolha.


Ana Teresa Ribeiro
Country Sales Director, Sage Iberia

Artigo publicado originalmente em IT Channel