Onde param os fundos do PPR e o que podem esperar as empresas

Para as empresas, o PRR representa uma oportunidade de financiar projetos de investimento, exportação e qualificação que impulsionem a resiliência e desenvolvimento. Prevê-se que seja possível requalificar 36 mil trabalhadores, apoiar 30 mil PME, constituir dez aceleradoras digitais e emitir três mil vouchers para startups. 

Ainda a pandemia estava no seu auge quando se começou a desenhar uma estratégia da Comissão Europeia para apoiar os vários estados-membros e respetivas economias a lidar com o embate desta crise à escala planetária. O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) surgiu tendo por objetivo prestar apoio financeiro a governos, particulares e empresas no ultrapassar dos impactos da pandemia, mas também com a finalidade de ser um pretexto para a realização de reformas estruturais em áreas específicas, definidas por Bruxelas, e em torno de três grandes dimensões: a resiliência, a transição climática e a transição digital.

Para as empresas, o PRR representa uma oportunidade de financiar projetos de investimento, exportação e qualificação que impulsionem a sua resiliência e desenvolvimento. Uma das áreas em que se pretende que haja benefícios é a da digitalização e automação das PME, que traz benefícios não só para as próprias como para quem as fornece. 

Por outro lado, os fundos vindos de Bruxelas têm ainda como finalidades contribuir para fazer face ao défice crónico de financiamento das empresas, enfrentar os problemas de produtividade e qualificação das equipas de gestão tantas vezes inerentes às empresas de dimensão reduzida e promover a chegada às empresas do conhecimento científico.

 

Impacto do PPR tarda a chegar

Mais de dois anos depois da chegada da crise sanitária à Europa, o tecido empresarial português não terá ainda sentido particularmente os apregoados benefícios. Estima-se que apenas 2% dos fundos recebidos por Portugal chegaram, por hora, diretamente a empresas e famílias. Dos mais de três mil milhões de euros que chegaram ao país, apenas 4 milhões de euros chegaram às empresas enquanto beneficiárias finais. Mais de 600 foram atribuídos a beneficiários diretos e mais de 1,1 mil milhões foram para beneficiários intermediários.

No entanto, este é um caminho que ainda está a ser percorrido e em que os fundos vindos do PRR ainda não chegaram na totalidade ao nosso país. E, a julgar pela argumentação do Governo, que o tempo irá ou não confirmar, Portugal é um dos países da UE que destinou, no âmbito do PRR, uma maior fatia proporcionalmente maior às empresas e o único que tem um apoio à capitalização e ao investimento produtivo (consequência dos enormes défices apresentados pelo país nessas áreas).

Está previsto que, com as verbas do PRR, seja possível requalificar 36 mil trabalhadores, apoiar 30 mil PME, constituir cerca de dez aceleradoras digitais e emitir três mil vouchers para startups. 

 

Como o dinheiro chega às empresas

Consoante o setor de atividade de uma dada empresa, assim os apoios que poderá potencialmente ter. Pode concorrer-se aos fundos disponibilizados diretamente através dos concursos existentes para os diferentes setores ou através de intermediários, como é o caso do Banco de Fomento. 

Nos objetivos desenhados para Portugal merecem particular destaque os setores da construção, sustentabilidade de edifícios, implementação de soluções digitais e, embora em menor escala, também os setores do agroalimentar, saúde e mobilidade. Em áreas como o digital, exige-se às empresas que invistam na qualificação dos seus recursos humanos e em tecnologia digital e que definam estratégias claras de transição para o digital.

Dentro do PRR, o Fundo de Recapitalização e Resiliência conta com uma dotação de 400 milhões de euros, destinados a estimular o crescimento sustentável da economia e colmatar a “delapidação” de capitais próprios durante a crise gerada pela pandemia, através da tomada de posição do Estado, sozinho ou em coinvestimento, em empresas de interesse estratégico nacional. Este apoio pressupõe que o investimento por empresa ronde, em média, os dez milhões de euros, não podendo ultrapassar os 100 milhões. Essas empresas devem ser entidades que, antes da pandemia, eram financeiramente saudáveis. O objetivo é promover a sua autonomia financeira e reforçar a sua resiliência.

Dos 400 milhões de euros para recapitalização das empresas, já foram entregues 76,7 milhões a empresas de turismo, industriais, empresas do agroalimentar e de engenharia.

 

Maria Ana Barroso
Psicóloga, jornalista especializada em temas económicos.

 

Artigo publicado originalmente em Blog Sage Advice