Digitalização: a alavanca para a reativação dos negócios e para a recuperação económica

A situação de pandemia veio alicerçar uma certeza: a digitalização é um fator crucial para sairmos da crise. Este não é um conceito novo nem uma descoberta recente, mas sim um processo de transição que já estava em curso há meses.

Prova disso é que, no ano passado, o Governo português apresentou o Plano de Ação para a Transição Digital, alinhado com os objetivos de Portugal para o período 2021-2027 e que coloca a transição digital no centro da estratégia de desenvolvimento do país nos próximos anos. Este Plano aposta nas novas tecnologias digitais – como os sistemas de inteligência artificial, o 5G, a computação Cloud e Edge e a Internet das coisas – como principais alicerces da transição energética da economia, e em particular dos setores industriais estratégicos para Portugal e do seu tecido empresarial.

É certo, no entanto, que o país atravessa uma difícil crise que obriga a decisões austeras, como restrições à mobilidade, redução de horários e outras medidas extraordinárias para enfrentar uma pandemia cujos efeitos se estenderam no tempo muito mais do que inicialmente poderíamos ter imaginado. São demasiados os setores produtivos à beira da rutura e as indústrias e serviços que é necessário não deixar cair; o esforço financeiro que nos é exigido é inédito. Estes eixos estratégicos de transição digital, por mais importantes que possam ser, não passariam de uma miragem sem o devido financiamento – a título de exemplo, Portugal tem previsto receber um total de €57.9 mil milhões para investir a fundo perdido, ao abrigo do Fundo de Recuperação da União Europeia, cuja maior fatia se destina naturalmente à recuperação e resiliência do país, e sem os quais não poderíamos continuar.

 

O que é a “digitivação”?

É fácil compreender por que a pandemia fez com que a transição digital assumisse um papel ainda mais decisivo na indústria, sobretudo na perspetiva do desenvolvimento e recuperação da economia. Na Sage criámos, adotámos e propomos o conceito de “digitivação”: a reativação ou reinvenção dos negócios através do investimento na digitalização. Este deve englobar todos os aspetos do sistema socioeconómico, desde a capacitação da força laboral e da população em geral, passando pela reindustrialização e pela inovação e melhoria da administração pública e do tecido empresarial, que no nosso caso assenta sobretudo nas PME.

Neste contexto, propomos uma reconstrução económica sustentável – em que a sustentabilidade é entendida em termos holísticos, ou seja, não é apenas a evidente, e muito necessária, do nosso meio, mas também a sustentabilidade do nosso bem-estar, condições laborais, empregabilidade, do acesso equitativo à educação e das possibilidades de desenvolvimento pleno das pessoas. Todos eles conceitos tão importantes e que acreditamos só poder alcançar através da digitalização. As necessidades humanas não deixam de crescer, mas deparamo-nos agora com um ecossistema de recursos escassos, com sinais evidentes de esgotamento e risco de colapso. Assim, a digitalização vai ser a grande alavanca que nos permitirá recuperar a economia, maximizar a eficiência do sistema produtivo e manter o bem-estar das pessoas.

Digitalizar para sobreviver

Nos últimos meses, infelizmente, assistimos a uma realidade para a qual alertávamos há anos e que parecia ser apenas uma teoria, ou uma noção muito distante: as empresas que não adotassem planos sérios de transformação digital ficariam para trás, incapazes de competir e em sério risco de desaparecer numa conjuntura desfavorável. A verdade é que aconteceu mesmo e para algumas já é demasiado tarde pensar uma recuperação. 

Felizmente existe também uma reação importante, uma luz ao fundo do túnel que podemos atingir; uma mudança cultural que temos desde já de assumir se quisermos subsistir, e que implica importantes sacrifícios de investimento de olhos postos no futuro. Esta aposta engloba planos de formação intensa dos nossos profissionais com vista a reforçar as suas competências digitais, uma aposta nos recursos de cibersegurança que são cada vez mais indispensáveis, o encurtamento do fosso digital entre as zonas urbanas e rurais e, acima de tudo, o impulso à digitalização em todas as vertentes, favorecendo a economia dos dados.

É, pois, chegado o momento de reativar a competitividade das nossas organizações. É tempo de reconstruir e inovar, pensando no bem maior: o bem comum. É chegado o momento de assumir que temos uma responsabilidade geracional que não podemos mais ignorar: digitalizar para sobreviver e regressar ao ativo.

 

Josep María Raventós
Country Manager, Sage Portugal

 

Artigo de opinião publicado originalmente em Dinheiro Vivo