A revolução 4.0 no setor agroalimentar: oportunidades de crescimento

Na Agricultura 4.0, o ERP é o fator de união e integração de todas as tecnologias de campo com as operações logísticas, comerciais e financeiras. A consolidação de dados numa plataforma única confere uma visão 360º do negócio, permitindo atuar mais rapidamente sobre as ineficiências e melhorar os processos de produção, embalamento, distribuição, transporte e venda dos produtos

Num estudo recente da IDC sobre o setor alimentar, percebe-se que 40% das empresas estão reféns de sistemas de informação fragmentados e tecnologicamente obsoletos, nos quais proliferam os desenvolvimentos específicos, aplicações externas que não comunicam entre si, e, como consequência, dados desatualizados, redundantes e de difícil interpretação.
Nestas empresas, o sistema de informação central – o ERP – serve pouco mais do que as necessidades de faturação e contabilidade.

Cinco desafios do setor agroalimentar

Mesmo antes da Covid-19, surgia em fevereiro deste ano, o estudo Agrifood: New risks looming ahead, que apontava os cinco principais desafios do setor:

  1. As mudanças nos hábitos alimentares
    Os consumidores procuram, cada vez mais, alimentos saudáveis e que ao mesmo tempo a sua produção seja o menos agressiva ao meio ambiente. Este novo paradigma de consumo os produtores a aumentarem o seu mix de produtos.
  2. A sustentabilidade ambiental, procurando reduzir a pegada de carbono da produção de alimentos
    A produção de alimentos é responsável por um quarto das emissões mundiais de gases de efeito estufa. O esforço dos produtores para reduzir estas emissões está na cadeia de produção dos alimentos, onde as emissões de CO2 (gás responsável por cerca de 60% do efeito-estufa) são mais altas.
  3. A diversificação das cadeias de abastecimento, provocada por intervenções nas políticas comerciais de cada País
    Segundo o mesmo estudo, as empresas agroalimentares têm de gerir um número cada vez maior de intervenções de cariz comercial (desde importações a incentivos ou restrições à exportação), gerando, por vezes, um aumento dos custos operacionais.
  4. O aumento dos salários
    De acordo com o painel de empresas inquirido no estudo, o peso médio dos custos da mão-de-obra representa 11% de todos os custos operacionais do setor agroalimentar. Isso representa um desafio para os fabricantes de alimentos.
  5. A incapacidade das empresas fixarem os preços
    Uma das dificuldades dos fabricantes de alimentos é, por vezes, o aumento nos custos das matérias-primas que não é refletido no mercado. O caso abordado neste estudo é o surto de peste suína na China, que reduziu o rebanho em mais de um terço em relação ao ano anterior. De forma mais ampla, o surto asiático teve um efeito de arrastamento para os preços dos produtos em todo o mundo.

Felizmente, vivemos em simultâneo a era da Agricultura 4.0, que representa uma oportunidade única para os empresários agrícolas aproveitarem as novas tecnologias para darem uma resposta eficiente aos novos desafios.

 

Os argumentos da Agricultura 4.0

As empresas mais bem preparadas serão aquelas que dispuserem de um Sistema de Informação Inteligente, capaz de processar, analisar e atuar sobre grandes volumes de dados gerados pela “internet das coisas” (IOT), em tempo real. Com a IOT, a multiplicidade de dispositivos e equipamentos conectados em permanência, desde o campo até aos pontos de distribuição e venda permitirão a recolha imediata de dados sobre os solos, a ocupação de recursos e preferências de consumo.

Neste contexto, o ERP será um instrumento fundamental na gestão dos processos operacionais e na criação de transparência na cadeia de abastecimento e produção, garantindo controlo total da qualidade e rastreabilidade alimentar, desde a colheita até ao ponto de consumo.

 

Benefícios de um ERP otimizado para o setor agrícola

Na Agricultura 4.0, o ERP é o fator de união e integração de todas as tecnologias de campo com as operações logísticas, comerciais e financeiras. A consolidação de dados numa plataforma única confere uma visão 360º do negócio, permitindo atuar mais rapidamente sobre as ineficiências e melhorar os processos de produção, embalamento, distribuição, transporte e venda dos produtos. A integração do ERP com os equipamentos agrícolas e balanças, p.ex., permite a recolha automática de dados quantitativos e qualitativos, fundamentais para uma gestão do negócio em tempo real. 

Note-se que os empresários agrícolas mais evoluídos já implementaram práticas de agricultura robotizada e de precisão, efetuam mapeamento digital dos terrenos e tiram partido da IOT para monitorizar aspetos como os movimentos do gado, a saúde do solo e os níveis de água. No entanto, é preciso unificar todos os dados obtidos debaixo de um sistema agregador – o ERP – que permita coordenar, monitorizar e ajustar as práticas de gestão agrícola, através de mecanismos de inteligência artificial e análise preditiva.

Por todo o mundo, multiplicam-se os casos de sucesso que demonstram o impacto das novas tecnologias e sistemas de informação na produtividade e rentabilidade dos negócios agrícolas, tanto nas operações de campo como no back-office. Não restam muitas dúvidas que o caminho para a competitividade agrícola em grande escala passa por aqui.

 

Artigo publicado originalmente em Jornal Económico.