“Portugal é um país extraordinário para fazer testes de produto”

A liderar a Sage Portugal há pouco mais de um ano, Josep Maria Raventós traça um cenário muito positivo dos negócios da empresa no nosso país. O lançamento do Business Cloud é a grande aposta do momento.

O que é exatamente a Sage Business Cloud?

É uma nova plataforma pensada para ser a única plataforma cloud de que os empresários precisam para gerir os seus processos de negócio. Reúne, numa única localização, a oferta de soluções e produtos cloud da empresa, desde soluções de administração e gestão financeira a software específico para gestão empresarial.

Queremos ser uma alavanca de evolução para o mundo cloud e a Business Cloud, vai ser o repositório de todas as aplicações, com produtos dirigidos para os mercados das start-ups, para as PME, contabilistas. A Sage Business Cloud será uma plataforma que vai agregar estes vários produtos conectados com o Office 365.

Quando vai chegar a Portugal de forma efetiva?

Já está a ser anunciado para todo mundo e Portugal está nesse roadmap. Deve estar disponível em meados do ano, junho ou julho.

A nova oferta obrigou à reorganização dos produtos que já tinham?

Um dos nossos grandes objetivos para este ano é a racionalização do portfólio. A Sage em Portugal foi de alguma maneira criada com base na aquisição de várias empresas locais e essas empresas já tinham o seu próprio portfólio. Nessa evolução o nosso objetivo era unificar alguns desses produtos, fazer o end of live dos produtos heritage que não podem evoluir e centrarmo-nos em acompanhar os clientes com os produtos novos, para que entrem nesta nova dinâmica de toda a plataforma da Sage Business Cloud. Gostaríamos muito neste processo de evolução, nos próximos dois a três anos, de ter já toda a base instalada e migrada para os nossos produtos. Esse é o desafio.

Que expetativas tem quando à aceitação desta nova oferta?

Estamos a ter uma aceitação máxima. Só para ter uma ideia, o nosso ano fiscal começou no mês de outubro e já temos mais de 4 mil clientes a trabalhar com os novos produtos Cloud. É um caso de sucesso, não só na Sage em Portugal, mas também a nível global.

Uma das grandes vantagens que temos em Portugal – e digo isto não sendo português, mas estou cá há um ano e a aprender muito com esta experiência – é que uma das características do mercado é que nestes produtos novos que lançamos, Portugal é um early adopter. Estou a falar agora do que se passa com o Sage 50Cloud como há cinco anos foi com o Sage One. Portugal é um país extraordinário para fazer testes de produto e para lançar produtos.

Significa que as empresas portuguesas são recetivas a novidades?

São muito recetivas. Portugal é espetacular nesse sentido. Diria que há um grau de aceitação elevado e também aí a nossa estratégia é simplificar a proposta de valor para que os clientes vejam claramente as vantagens desse produto. E eles são os primeiros a aceitar essa migração. Quando pensamos nas empresas que utilizam software como o da Sage, ou mesmo quando as empresas crescem e precisam de algo mais complexo, um dos grandes entraves à mudança é a transição para um novo produto, porque envolve um processo de migração dos dados complicado. O que acontece agora é que todos os produtos estão na mesma plataforma. Ou seja, se uma start-up crescer e se tornar uma média empresa, com mais colaboradores, com mais exigência, ela consegue de uma forma fácil, acrescentar um novo produto para fazer face às novas necessidades. Tentamos acompanhar sempre o crescimento dos nossos clientes adequando a nossa oferta tecnológica à realidade de cada momento desse cliente. Essa é a maior vantagem que estamos a oferecer.

De que forma esta nova oferta vem revolucionar o mercado dos softwares de gestão?

Eu diria que há várias coisas que estamos a desenvolver dentro desta plataforma. Em primeiro lugar, estamos a ter em consideração os basics que tem o produto, as funcionalidades estão orientadas à área de produção, para o cumprimento de todas as necessidades de negócio. Segundo, todas as conetividades com produtos cloud que permitam essa mobilidade e o aceso de toda a informação, a partir de qualquer lugar e com qualquer dispositivo. Terceiro, estamos a aplicar inteligência artificial a todos os nossos produtos. Ou seja, temos uma plataforma aberta, que é o chatbot, que está a permitir que muitas das interações que os clientes têm com os produtos se possam fazer através da inteligência artificial. Isso já está a acontecer em Espanha e no mundo anglo-saxónico. Em Portugal vamos tratar de ter tudo o que é parte de IA aplicada aos produtos antes do fim do nosso exercício fiscal, em setembro.

Em que medida a nova oferta irá beneficiar o cliente?

Todas essas áreas vão aportar maior valor aos produtos, sobretudo na facilidade de interação que o utilizador tem com eles. São produtos com uma tecnologia altamente avançada que vai fazer com que os processos sejam muito mais automáticos, mais intuitivos, retirar trabalho ao utilizador de forma a que este se possa dedicar ao seu negócio. É quase como se gestão ficasse invisível.

Está a falar da aplicação de IA e de machine learning?

Exatamente. A média de utilização das funcionalidades dos nossos produtos pelos utilizadores está na ordem dos 37% do total da capacidade que tem o produto. Uma das dificuldades dos clientes é não terem uma interação com o produto por falta de tempo. O chatbot vai permitir que essa interação permanente e, portanto, a maioria das features e das finalidades desenvolvem-se muito mais muito rapidamente. Essa interação é muito mais eficiente.

Quando se fala de desenvolvimento tecnológico neste sector, estamos a falar só de vantagens ou também de desvantagens?

Em regra, vemos sempre as vantagens e nunca as dificuldades, mas elas também existem. Até se lançar um produto no mercado, pelo menos no nosso caso, há sempre algumas tentativas e erros que se produzem. Temos de aprender com os clientes. Agora o maior risco que vemos nisto é no momento em que lançamos aplicações no mercado. Estou a lembrar-me de aplicações de mobilidade que lançamos há 10 anos e que, nesse momento, não tiveram sucesso, estavam fora de tempo, antecipámos demais. Mas, por outro lado, isso também serviu para melhorar a proposta de valor.

O que a Sage pode fazer para eliminar essas dificuldades?

Sabemos que as vantagens do mundo cloud são claríssimas do ponto de vista dos custos de infraestruturas e até de otimização de recursos e dos benefícios da tecnologia. Mas ainda estamos a encontrar barreiras não só do mercado, como também dos próprios utilizadores. Nós temos de ser a parte mais importante dessa alavanca para o mundo digital. A Sage, assim como todos os fabricantes de tecnologia, temos uma responsabilidade máxima na parte da formação, ajudar a explicar que este é um caminho sem volta. Esse é o processo que estamos a viver agora e talvez seja onde tenhamos de investir mais.

A vossa quota-parte de envolvimento deste sector é grande?

Sem dúvida. Não é só a construção desse projeto que, de alguma maneira, vai determinar o futuro e a tecnologia que as empresas e os profissionais vão usar, mas também explicar claramente quais são as vantagens e os benefícios para associados a essa tecnologia. É aí que temos de dedicar uma parte importante do nosso tempo.

Enquanto empresa, qual o vosso compromisso com o mercado?

O nosso compromisso é máximo. Temos a vocação de ser a primeira companhia mundial a oferecer soluções e serviços de alto valor para os sectores das PME, das start-ups e contabilistas, que são uma parte importante da nossa receita. Sendo essa a nossa vocação também temos a responsabilidade de cumprir com a nossa função de satisfazer as necessidades atuais e futuras do mercado. Portanto, no nosso mindset só temos uma questão na cabeça aquilo que o nosso presidente chama de customer obsession. Isso para nós significa colocar o cliente no centro de todas as decisões. Ou seja, colocarmo-nos na cabeça do cliente, aplicando todo o know-how que temos ao serviço dele. Essa é a nossa cultura e o nosso ADN

Para onde está a caminhar este sector do software empresarial?

Na minha opinião há uma parte que é pura commodity, isto é tudo o que é gestão, a contabilidade tudo o que é produção própria de uma indústria ou negócio. Mas há outra parte, mais importante que é a interação entre o indivíduo e o seu ambiente e as ferramentas que estamos a vender. Portanto, cada vez mais quando falamos da IoT ou quando falamos da evolução para o 5.0 tem a ver muito com os automatismos de todos os processos. A contabilidade que fazemos agora não vai ser a que faremos no futuro. Tudo isto vai desaparecer porque vai transformar-se num processo automatizado, vai ser uma parte do processo. Toda a tecnologia vai usar muitíssimo a Inteligência Artificial, os processos vão estar todos automatizados.

Quais serão os maiores desafios?

Numa visão de futuro, cremos que o modelo atual não faz sentido. Dentro de oito a 10 anos mudará tudo. O maior desafio no futuro será utilizar plataformas tecnológicas e IA que possam atuar entre eles. Isso depende da criatividade que os engenheiros possam ter de forma conciliar a oferta com aquilo que as empresas precisam. Por isso, cada vez mais na Sage estamos a recrutar pessoas que estão a trabalhar em IA. No total, na organização temos entre 7 a 9% de colaboradores a trabalhar na área.

Que expetativas tem para o mercado português com o lançamento desta plataforma Business Cloud?

As expetativas são máximas. Há um ano que estou em Portugal e que tenho a satisfação e a oportunidade de gerir Sage e deixe-me dizer que Portugal é um país que tem enormes potencialidades de crescimento. O PIB está a crescer, o desemprego a decrescer… o crescimento que estamos a ter em Portugal é espetacular. Este ano está a ser superior ao do ano passado, crescemos no número de clientes novos, nos clientes ativos e, muito importante, em faturação. Somos um caso de sucesso na migração para novos produtos. Temos uma equipa de que me sinto muito orgulhoso.

A que se deve esse sucesso?

Basicamente o sucesso pode ser resumido em três ou quatro medidas que tomámos: a implementação da nova organização da Sage a nível mundial em Portugal que foi focarmo-nos em cada um dos segmentos do mercado, nas start-ups, nas PME, nos contabilistas e nas empresas de grande dimensão, depois em manter a fidelização dos clientes e captar novos mercados; e ainda o lançamento dos três produtos conected que fizemos no ano passado. Por último, outra razão porque estamos a crescer foi o nosso engagement com o mercado. Estamos a trabalhar muito no ecossistema de parceiros. Temos 1200 parceiros e o que estamos a fazer agora é reorganizá-los em cada segmento de mercado. E estamos a certificá-los lhes dar o melhor reconhecimento possível e a expertise das nossas aplicações. É espetacular o que estamos a conseguir em Portugal, temos uma equipa com uma grande experiência dominada por mulheres.

As expetativas do grupo Sage em relação ao escritório português também são elevadas?

Sim. Há uma pressão enorme. Mas como estamos a crescer muito acima do conjunto da empresa, neste momento somos um caso de sucesso dentro da Sage a nível mundial. O nosso tamanho também é o que é. Acredito que é muito positivo e sentimo-nos orgulhosos do trabalho que a equipa está a fazer. É uma equipa muito sólida e é um fator chave para o sucesso.

Boas perspetivas para este ano, portanto …

Na minha opinião vamos ter um ano extraordinário, melhor que o ano passado que já foi muito bom. Consolidámos a organização, os produtos que lançamos estão a dar resultado, temos o lançamento da nova plataforma Sage Business Cloud e o ecossistema de parceiros está a reorganizar-se. Estes fatores que são absolutamente decisivos para atingir o sucesso este ano. Além disso estamos a fazer o push de toda a migração dos produtos heritage para os novos e o mercado está a responder muito bem. Portanto, só posso dizer que este ano vai ser um desafio, mas há um grande otimismo.

 

Entrevista publicada originalmente em Link to Leaders. Pode ler o artigo aqui.